“A vida é a arte do
encontro
Embora haja tantos
desencontros pela vida”
Vinícius de Moraes
“Amor à primeira vista”, “cara
metade”, “alma gêmea”... tudo isso soa clichê, principalmente num mundo onde a
fragilidade e o vazio dos relacionamentos amorosos, bem como a futilidade com
que se tem tratado as relações humanas, nos fazem desacreditar desse tal, o “amor”.
Platão, em seu Banquete, descreve
o mito dos Andróginos, segundo o qual no princípio os homens eram seres
completos, envaideceram-se de sua perfeição e começaram a invejar a
imortalidade dos deuses. Zeus, enfurecido, castigou-os cindindo o homem da
mulher, sua sina seria vagar pelo mundo à procura dessa sua outra metade.
Meus amigos, o mundo é muito
grande, sua alma-gêmea pode ser qualquer um dos 7 bilhões de habitantes da face
da terra. Quem procura não acha. Foi justamente quando desisti de procurar que
encontro Eneline. Conversamos algumas horas sobre medicina, estágios, planos,
futuro... afinal, vivíamos situações semelhantes. Isso passou.
O danado é que parece que Zeus
queria nos (re)unir pelo acaso, foi quando nos encontramos, famintos, numa noite
fria paulistana. Enquanto jantávamos, a noite virou madrugada, e a madrugada se
fez manhã. Foram treze horas ininterruptas de conversa. E nós só nos
conhecíamos a dois dias.
Eu custava a acreditar que aquela
era a “metade arrancada de mim”, afinal, esse papo de alma gêmea soava cafona.
Até que ela me diz: “as vezes eu penso que as almas falam línguas diferentes,
por isso é tão reconfortante quando a gente encontra alguém que fala nossa língua”.
É meus caros, a verdade é que a
gente vive numa babilônia de almas, muitas vezes vivemos uma vida que não é a
nossa, justamente porque não sabemos nos escutar, consequentemente, nunca
identificamos uma alma que fale a nossa língua.
Mas a nossa história estava fadada
a terminar ali, Nine viria a Recife e eu voltaria a Natal, afinal, o poeta de
Moraes já disse que “há muitos desencontros pela vida”. Dentre os 7 bilhões de
almas eu tinha completado a minha “sina”, mas eu iria perde-la de novo.
Foi quando li Khalil Gibran: “se
o amor chamar, segui-o. Por mais que os seus caminhos sejam agrestes e
escarpados”. E eu fui, fui para o agreste pernambucano, trabalhar com
indígenas, mudar todos os meus planos, separar-me de minha família e amigos.
Fui porque essa era minha vida verdadeira, e ela estava passando ao meu lado
sem que eu pudesse vivê-la. Valeu a pena pescar essa ilusão.
Portanto, meus amigos, se nessa babilônia de almas você encontrar alguém que fale sua língua por treze horas seguidas, sem nenhuma intenção, segui-o e sai por aí colecionando pores do sol.
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