quinta-feira, 25 de julho de 2013

Impressões

"Mainha, o tempo passa e levo nesse desafio
A natureza chega chora a perguntar
Se os peixinhos sentem saudade do rio
Se a lavandeira tem motivos pra cantar

Meu velho Ipojuca, teu espelho já não brilha
E nessa trilha tu parece até comigo
Lençol de pedra e sonho de baronesa
Nessa tristeza aceitando teu castigo"
Meu velho Ipojuca - Petrúcio Amorim



“É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi”, estranhava Caetano Veloso ao deparar-se com São Paulo. Também nada entendia eu ao chegar no agreste pernambucano. Por que essas pessoas escolheram esse cenário árido para morar? Por que houve tanto derramamento de sangue por essa terra sem vida?

Ah, Narciso, você continua achando feio o que não é espelho! Nascido e “mal criado” em "outro sonho feliz de cidade", ali onde a foz do rio é tão larga que é difícil imaginar quão minguado é seu trajeto, fica difícil entender o fenômeno "seca" quando a conhecemos apenas pelas, digamos, preconceituosas, reportagens do Jornal Nacional.  

Até que chove (menos do que a média esperada) durante uma semana e você entende: "a convivência com a seca é possível"!


E a chuva, ou antes, a presença de água, muda tudo! De forma impressionante diminuiu o número de atendimentos por queixas relacionadas a síndromes ansiosas, bem como a demanda pelos amados "remédios controlados" e receitinhas azuis. Tenho que concordar com o diagnóstico da minha companheira Eneline, ao deparar-se com uma paciente sua no campo: "Mas o que tirava o sono deles era a seca. O que eles precisavam era de CHUVA. Santo remédio". A conclusão é empírica, mas nem precisa de validação científica.  


Em tempos de tantas discussões sobre mais médicos pra lá, menos médicos pra cá, têm-se a ideia mágica de que basta nossa onipresença e está tudo resolvido. Te respondo, como médico rural: pouco gelo podemos enxugar onde falta tudo, inclusive médicos. Proponho então o programa Mais Chuva, Mais Alegria, Mais Comida, Menos Rivotril, Menos Desnutrição. 

Que os manda-chuva da mídia e de Brasília voltem a se preocupar com questões mais centrais na vida da população, porque muito mais do que Mais Médicos, o sertanejo precisa de Mais Água.

Há muito mais entre o povo e o governo do que possa resolver nossa vã medicina.

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